A cefaléia ou enxaqueca tem sido reconhecida desde o início da civilização.
Embora haja relatos de enxaqueca com escotomas, em crônicas sumerianas, desde há 3000 anos a.C., a descrição pormenorizada deste tipo de cefaléia nos foi proporcionada por Areteu da Capadócia (atual Turquia Asiática) que quase no fim do primeiro século de nossa era (81 d.C.) classificou a dor de cabeça em cefalalgia, cefaléia e enxaqueca, o que serviu de base para as classificações modernas de cefaléia.
Convém enfatizar que achados arqueológicos de civilizações neolíticas, com data aproximada de 7.000 anos a.C., já sugeriam que os povos da época tinham intensas crises de dores de cabeça, interpretadas como a presença de maus espíritos dentro do crânio.O tratamento empregado era a trepanação, e consistia na abertura de orifícios no crânio, para a saída dos maus espíritos que causavam a dor de cabeça.
Os antigos egípcios, gravaram num dos seus papiros uma cena de tratamento de cefaléia, descritas da seguinte forma: "O médico deve amarrar à cabeça do paciente um crocodilo feito de barro, com olhos de louça e trigo na boca, usando uma faixa de puro linho sobre a qual devem estar escritos os nomes dos Deuses" (papiro Ebers 1200 a.C)
Celsius, que viveu entre 215 e 300 d.C., observou que vinho, frio, calor e exposição ao sol poderiam provocar crises de dor de cabeça com características de enxaqueca.
Hipócrates, em 400 a.C., foi a primeiro a retratar os sintomas visuais da enxaqueca. A partir de suas próprias crises, descreveu uma luz brilhante – geralmente localizada no olho direito – seguida por violenta dor que começava nas têmporas e finalmente alcançava a cabeça e o pescoço.
No século II, Galeno de Pergamon usou o termo "hemicrânia", do qual a palavra "enxaqueca" é derivada. Ele pensou que existisse uma conexão entre o estômago e o cérebro por causa da náusea e dos vômitos que freqüentemente acompanham uma crise.
No século X para o alívio da enxaqueca, o médico espanhol Abulcasis, também conhecido como Abu'I Quasim, sugeriu a aplicação de ferro quente na cabeça ou inserção de alho em uma incisão feita na têmpora.
No século XII, Abess Hildegard de Bingen relatou visões que podem ser uma descrição inicial dos pródromos da enxaqueca.
Na Idade Média e no Renascimento os seguidores de Galeno diziam ser a enxaqueca provocada pela bile amarela agressiva.
No inicio do século XVII Charles le Pois descreveu sintomas premonitórios e enxaqueca com aura pela primeira vez, e em 1712 a Biblioteca Anatômica, Médica Chirurgica, em Londres, caracterizou cinco tipos principais de cefaléias, incluindo a "Megrim", que pode ser reconhecida como a enxaqueca clássica.
Durante o século XVII, Thomas Willis observou a importância da vascularização em muitos casos de enxaqueca. Ele estava bem ciente de que a enxaqueca, apesar da intensidade de suas crises, era benigna, tinha aspectos hereditários e sofria influência do meio ambiente (estações do ano, pressão atmosférica) e da dieta.
Em 1664 descreveu o círculo de Willis e observou a presença de fibras nervosas nas paredes dos vasos cerebrais. Seu ponto de vista era que os sintomas de enxaqueca estavam relacionados a vasoespasmos.
Outro aspecto importante da fisiopatologia da enxaqueca emergiu durante o século XIX, quando Edward Liveing atribuiu a enxaqueca a uma disfunção cerebral causada por “tempestades nervosas” originadas no interior do próprio cérebro. Ele acreditava que havia uma relação entre enxaqueca e epilepsia e que ambas eram causadas por descargas no sistema nervoso central.
Gowers, em 1892, foi um dos primeiros a descrever os escotomas na fase pré-álgica da enxaqueca.
Lashley, em 1941, descreveu pormenorizadamente seus próprios escotomas e chegou a calcular, sua perda visual, e concluiu que a extensão de seu distúrbio visual progredia com a velocidade de 3 mm por minuto.
Embora os primeiros relatos sobre a enxaqueca sejam da era sumeriana, o desenvolvimento de seu estudo integrado e com bases científicas começa com Wolff e sua escola, na década de 30, nos Estados Unidos.
Nas últimas décadas houve avanços significativos no estudo das cefaléias, principalmente no que tange a sua sistematização, aos mecanismos fisiopatológicos, fatores etiológicos e à abordagem terapêutica.
Atualmente, mais de 150 tipos diferentes de cefaléia são reconhecidos e o capítulo do diagnóstico diferencial dessa queixa é um dos mais ricos da medicina.
Referência:
- SANVITO WL & MONZILLO PH. Cefaléias primárias: aspectos clínicos e terapêuticos. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 437-448, out./dez. 1997: Grupo Editorial Moreira Jr., 2001.
Infomação atualizada em 01/04/2013 |